sexta-feira, 6 de junho de 2008

I

"Saia do armário", me disse. "Venha para onde está o sabor". Eu, sem saber de nada que acontecia, segui até esse mundo onde o concreto era abstratamente macio, as árvores eram de lego e só germinavam ao som de Primal Scream. Lembro do cheiro das cores dos sons de cada sabor. O ofuscamento a cada passo não me permitiu adentrar cada minúcia de cara, mas o encantamento tão óbvio e inevitável me atingiu, certeiro como uma chapa-de-pé, embriagante como nada mais.

E de repente todas aquelas sensações inexplicáveis fizeram sentido; cada sensação de pertencer a outro tempo, cada vez que senti a angústia de uma saudade de nada… E de repente eu não tinha mais chão; sem mais raízes, sem passado e sem norte. E de repente... era bom.

E de repente sumiu. Inútil perguntar. Inútil procurar. Inútil querer, buscar, implorar... "Cansei", me disse.

Eu não.

(continua)

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